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quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Torcedor comum

Em dia de jogo da sua equipe, ficava tão nervoso quanto no momento de uma reunião importante. Principalmente, agora, em que seu time estava em um momento crucial do campeonato, disputando a liderança ponto a ponto com outro time de grande tradição no futebol.

Os últimos jogos não haviam sido bons. Empates, gols sofridos no final, expulsões e os jogadores mais promissores não colaborando.

Mas a chegada de um novo jogo dava ânimo e esperanças de mudanças. Antes do juiz dar o apito inicial, fez seu conhecido ritual. Deixou a televisão no mudo enquanto rezava. Acendeu duas velas, uma para São Jorge e outra para Nossa Senhora Aparecida, seus santos mais devotos. Acendeu também um incenso, para purificar o ambiente.

A cerveja já estava gelada. Tudo pronto.

Como sempre, via o jogo sozinho, sem ninguém por perto para 'cornetar', criticar ou conversar. Às vezes, sentia a falta de alguém para comentar algum lance, mas de uma forma geral era bem melhor ver os jogos sozinho, sem ninguém por perto para incomodar. Ali, era só ele e sua torcida.

Que tudo dê certo.

É dado o apito inicial e o primeiro tempo foi horroroso. Gol sofrido ainda no começo da partida e uma atuação pífia, do goleiro ao ponta-esquerda.

Sua gritaria não resolveu de nada. Muitos menos, seus xingamentos e lamentações.

A substituição no intervalo pouco mudou. No segundo tempo, uma leve melhora acompanhada de perto pela queda de rendimento do adversário. O gol de empate nos minutos finais fez a situação ficar 'menos pior'. Poderia ter sido de mais. Um empate até foi válido, diante das circunstâncias.

O time continuaria brigando pela ponta da tabela e o retorno de algumas peças importantes na próxima partida, dentro de casa, era uma esperança a mais. Sabia que, mais uma vez, não poderia estar presente. Raramente comparecia às partidas. Não era assim quando era criança.

Frustrado, colocou sua roupa e se arrumou. Desceu as escadas e antes de chegar próximo à porta, ela se abriu. Desceu poucos lances de escada antes de ter a porta do carro aberta pelo seu funcionário.

- Boa tarde, governardor. Sinto pelo empate.

O motorista já sabia bem que a cabeça do seu patrão não estaria boa. Tentou amenizar a situação, foi correspondido com um leve movimento com a cabeça.

Entre as reuniões e palestras do dia, o governador não tiraria aquele resultado da sua cabeça tão cedo. Fanático como ele existiam poucos. ...read more ⇒