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quinta-feira, 28 de julho de 2011

Amor de mãe o segurou

Insegurança, dúvida, medo. Tudo isso em doses cavalares, presentes a todo momento. Não sabia o que seria da sua vida em um ano, quanto mais em cinco. Todo e qualquer esforço parecia não valer a pena. Fazia tudo da melhor forma possível, apesar da impaciência e mau humor baterem constantemente à sua porta. O diploma parecia não valer de nada.

Teimava em confiar naquela máxima de que 'o trabalho dignifica o homem' ou quem sabe, 'uma hora a coisa vai'. Confiava e esperava, mas nada acontecia. O aguardo parecia uma constante, que nunca ia embora, apesar de esforços em busca de alguma mudança.

O incômodo era grande, repetia para si mesmo que não merecia aquilo tudo. A insatisfação aparecia de diferentes formas. Até quando tudo parecia estar em ordem, ele conseguia ver algum aspecto que podia ser melhorado, se distanciando ainda mais de algum resquício de felicidade que pudesse minimizar tanto sofrimento.

Não era a primeira vez que pensava em deixar tudo de lado. Acabar com tudo, da forma mais rápida possível. Deixaria muitos de lado, desapontaria outros tantos, que ficariam até o final de suas vidas tentando entender o porquê de um ato tão pensando e tão difícil de se criar coragem. Mas seria melhor. Todo o sofrimento acabaria, toda a angústia iria embora, nenhum daqueles incômodos voltaria a lhe perseguir.

Pensou na melhor estratégia. No final, tudo daria na mesma. Um velório cercado de gente incrédula, se perguntando 'como pôde' e sem conseguir deixar de lado tudo que ele ainda teria pela frente. Mal havia chegado à casa dos trinta anos. Tudo bem que as coisas não iam bem, mas o caminho era longo, muita coisa boa, com certeza, lhe aguardava. Podia demorar para tudo entrar no eixo, mas sem dúvida, as coisas melhorariam para ele, era uma questão de tempo.

Resolveu jogar tudo fora e deixar toda aquele gente para tras. Covardia para alguns, solução para outros, que conseguiam entender um pouco de tudo aquilo que o motivou. Estes o conheciam bem e sabiam da sua pressa para que tudo se acertasse o quanto antes. Sabiam no tanto que ele desejava ter um pouco mais de tranquilidade, não se sentir tão para baixo, ainda mais quando comparava sua situação com tantos outros a seu redor, muitos mais novos, o que o deixava ainda mais chateado.

Um tiro na cabeça bastaria. Rápido e indolor. Poucos minutos antes, pensou em tudo aquilo que o rodeava. Um filme surgiu, logo desapareceu. Um clique para acabar com tudo, deixar o mundo para tras, quem sabe conhecer um outro lado.

Pensou logo nas pessoas mais próximas. Seria justo o sofrimento a ser despertado? Claro que não, quando o mundo teve justiça? O amor de mãe o segurou pelas mãos, o puxou de lado e o fez crer que nada daquilo valeria, não ajudaria em nada.

Guardou a arma na gaveta e deixou o cômodo. O amor de mãe o segurou. ...read more ⇒
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quinta-feira, 14 de julho de 2011

Décio Gentil

Décio era, de longe, um daqueles zagueiros de várzea clássicos. Negro, 1,82m, aquela saúde toda. Em campo, não dava moleza. Ganhava tudo por cima e por baixo tinha um senso de posicionamento incrível. Já tinha feito testes em alguns clubes, mas depois de insucessos, desistiu de vez. Gostava mesmo era dos campos de terra, da cerveja sem compromisso com os amigos no pós-bola e de sair de campo sabendo que jogou bem.

A diferença de Décio estava no vocabulário. Estudou até o segundo grau e sempre gostou de ler. Quando muitos achavam que, contras os atacantes, saíam somente palavrões, o que se ouvia eram expressões precisas sem nenhum baixo calão. 'Discordo, professor', 'muito bem, seu bandeira' e 'com licença' eram comuns. Em pouco tempo de várzea, recebeu a alcunha de Gentil. Décio Gentil. Um dos maiores zagueiros que a várzea já viu. ...read more ⇒