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sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Olho gordo, bola magra

Era seu primeiro ano em um grande clube. Tinha somente 20 anos e duas boas temporadas pelo time do interior do Estado foram mais que suficientes para sua contratação. Chegou com algumas dúvidas, mas já tinha recebido oportunidades e aproveitado bem.

Ainda tímido, procurava se adaptar a nova rotina. Concentração de luxo, com quartos arrumados, alimentação de qualidade, estrutura impecável. Ainda custava a acreditar na oportunidade que estava recebendo. Humilde, procurava se enturmar aos poucos e evitar de 'força a barra' para acelerar o processo de entrosamento com o restante do grupo. Acreditava que tudo aconteceria naturalmente.

Surpreendeu-se em como havia saído bem na entrevista coletiva, a primeira de sua carreira. Antes, era só entrevista para rádios na beira do campo e olhe lá. Mas agora não, tudo era novidade, mas soube se segurar para evitar o deslumbramento.

Dias antes do que poderia ser sua estreia, o craque do time, que ainda mal o cumprimentara, sofria com uma infecção intestinal. A possibilidade de ver um novato entrar no seu lugar o motivou a se recuperar prontamente. Ficou para a próxima, quando o 'astro' se contundiu no final do jogo. Sem alarde, o jovem entrou e deu passe para gol, nada demais. Estava apenas fazendo seu trabalho. Mas percebeu rapidamente que o estrelato ali era diferente. A coisa pegava mesmo e tinha gente se achando mais do que merecia.

A badalação com o camisa 10 era constante. Especulações eram diárias e tudo que o meia fazia, virava notícia. E o moleque lá, na dele, sem se importar com tudo que acontecia ao seu redor. A relação com o concorrente praticamente não existia. Sem conversa e olhares distantes, nada amistosos.

Tentou se segurar, mas a arrogância do concorrente era tamanha que começou a desejar alguns percalços. O efeito aconteceu no dia seguinte. Jogada simples, tentativa de arrancada e ruptura do ligamento da estrela. Seis a oito meses parados e uma vaga aberta para o jovem negro do interior.

Depois da titularidade e alguns bons jogos, a queda. Não conseguia produzir mais e começou a desconfiar que a má fase tinha relação com o 'olho gordo' que colocou sobre o titular de antes. Nunca havia feito isso antes, não era disso, mas o incômodo acabou forçando o desejo, que acabou se realizando.

Começou a torcer para a recuperação e a boa fase logo voltou. Seu maior desejo era que ele voltasse logo e que a disputa pela posição fosse sadia. Se merecesse a vaga, ganharia na bola e nenhum estrelato poderia impedir isso. Ficou impressionado como um favor extra-campo causava interferência no seu rendimento.

Começou a pensar positivo para tudo e mais coisas boas aconteceram. Ganhou a posição e deixou para trás o antes garantido titular.Transferido, descobriu em uma das 'resenhas', que o craque que permaneceu no clube era de 'secar' os colegas de trabalho com intensidade. Tinha medo de perder o status de celebridade e a vaga no time. O futebol não era prioridade.

A certeza sobre o poder de uma mente foi reforçada. Pensar positivo e querer o bem faziam toda a diferença e deixavam o caminho mais aberto para o aproveitamento de oportunidades. Depois de pouco tempo, percebeu que mesmo jovem, era mais maduro que o 'experiente' meia, que custou recuperar o bom futebol.

Alguns diziam que eram 'coisas da bola', mas na verdade, tinha mais, que poucos saberiam o que era e que fazia tanta diferença dentro das quatro linhas. Se contasse, era difícil de alguém acreditar. ...read more ⇒