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terça-feira, 18 de setembro de 2012

Sem querer, o maior furo da cidade

Goleiro de pelada, daqueles que todo mundo queria no time. Saía até briga na hora de escolher. Normalmente, ficava no time mais fraco e acaba fazendo a diferença. 

Em um domingo despretensioso, logo no começo do jogo, percebeu uma alegre reunião bem atrás de seu gol. Conseguiu reconhecer um dos diretores de futebol de um dos grandes times da capital, que aproveitava o fim de temporada para descansar. Talvez o dirigente não tenha notado o goleiro logo do outro lado da cerca, ali pertinho. As várias cervejas com os amigos fizeram efeito. 

Apenas no primeiro tempo, já tinha conseguido ouvir uma meia dúzia de casos de deixar muita gente do futebol assustada. Jogador-travesti, pipoqueiro, chifrudo e mal visto. Falou mal até do presidente. 

A goleada de sua equipe permitiu que a linha do gol fosse seu local predileto durante o segundo tempo. Sempre que podia, ia para perto das redes, bebia uma água e conseguia fingir que se aquecia para escutar um pouco mais. Sentiu-se como um pequeno mosquito ouvindo uma conversa comprometedora. 

Foi quando o dirigente soltou uma bomba, aproveitando o ambiente descontraído e as várias cervejas. Seu time já tinha acertado a venda do maior craque. Futebol árabe, proposta irrecusável, muita grana para todo mundo. Era pegar ou largar.

Mesmo um pouco alterado, o diretor pede segredo de todos que estão ali. Com o aval de todos, ficou tranquilo e nem reparou no número 12 à sua frente. O goleiro não conteve o discreto riso com o pedido. 
Depois do jogo, o arqueiro não tardou a ligar para o editor. Na rádio, todos ficariam estarrecidos. O goleiro-repórter conseguiu passar despercebido pelo dirigente, que o conhecia de algumas temporadas e muitas entrevistas.

A bomba foi solta antes mesmo do dirigente retornar à capital. "Filhos da puta!", pensou, já incriminando os amigos da pelada. Sabia que sua carreira no clube podia desmoronar. Erro clássico e cruel.

A rádio foi a responsável pela divulgação da notícia em primeira mão. O nome do responsável foi exigido e o camuflado arqueiro foi apontado como o descobridor.

Procurado, o repórter, que em instantes, ganhou fama e credibilidade, fez questão de ressaltar o quanto apurou e investigou antes de ter toda a certeza no momento do anúncio. Fez um charme e saiu por cima.

Morreu poucos anos depois, com uma carreira de muitos amigos e pouco reconhecimento no rádio. Mas sempre seria lembrado como o único a 'dar o furo' da maior venda da história do tradicional clube da cidade. 
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