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segunda-feira, 13 de maio de 2013

Shopping nunca mais!

Custou a ganhar dinheiro com o futebol, mas quando começou, foi muito, muito mesmo.

Era, como muitos, de família pobre e de muito talento. Perdido no início de carreira, rodou até por time de segunda divisão portuguesa antes de voltar pro Brasil, uma daquelas apostas de time grande.

Deu certo. Artilheiro do campeonato e até uma convocação pra seleção. Time no top 4, aquela beleza. “Graças a Deus, o trabalho deu resultado, com ajuda dos companheiros e do treinador. Agora é treinar forte em busca dos três pontos”, aprendeu bem com o assessor.

Mais um daqueles gastos que pareciam infinitos. “Assessor pra quê?”, pensou muitas vezes.

Até o dia em que brigou na saída de uma boate. O telefone não parava, não sabia dar entrevista e nem aparecer na televisão. Aquele custo ali compensava. Tudo deu menos errado por causa de uma indicação, que durava até hoje.

Outro gasto que valia a pena ter era não ter que ir em shopping. Odiava!

A mulher insistia para acompanhá-la nas compras e ele não suportava aquilo tudo. Foi uma vez pra nunca mais voltar. E justamente quando a fase era boa. Não conseguiu comprar um tênis e pedir o almoço. Nem ao mesmo estacionar. Era foto, autógrafo e falação, uma buzina danada.

Crescido no interior, se sentia um peixe fora d´água. “Tudo junto no mesmo lugar, que coisa mais besta. O dia vira noite e você nem percebe”, justificava.

Pra evitar problema, deixava o cartão com a mulher. Ela ia, mesmo com uma ponta de tristeza. Conseguiu aliviar ainda mais quando disse que a senha do cartão era a data de aniversário de namoro.

Sentia um alívio de não precisar enfrentar trânsito e ficar naquele entra e sai de loja, vendedor, caixa, senha, experimenta, troca, esseestáa bom, esse não serve. Tinha dinheiro era pra gastar, pagava até o taxi da madame.

Não demorou pro futebol cair e ficar duro. Perdeu a esposa, o bicho pegou quando falou pra ela ir fazer compras no cidade da cidade, de ônibus. E se quisesse!

Teve que dar metade de tudo que tinha pra ela na separação. Voltou pro esquecimento.

Rodou, rodou e rodou, ficou velho e aposentou. Não largou a bola, foi pro futebol amador.

Tentou uma última chance com um agente. Ele pediu um encontro logo onde o quase ex-jogador não queria. Não teve jeito. Foi lá e saiu mais triste do que entrara.

A proposta era um abuso e ninguém o reconheceu. Ficou com ainda mais raiva daquilo tudo.

Vivia com o pouco que tinha e era atração do bairro onde nascera. Foi o único que virou jogador de futebol profissional. Sentia saudade da mulher, mas logo passava quando a lembrança do shopping voltava.

“Coisa dos infernos...”
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