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quinta-feira, 12 de março de 2015

Caiu na rede



Estava ali há mais de 20 minutos e nada do amigo chegar. Tinha acabado de pedir o terceiro chopp quando viu na mesa ao lado um casal se pegando, daquele jeito. Tentou desviar a atenção, mas a coisa estava além do normal.

Não pôde deixar de reparar no rabo de cavalo pintado de roxo da bonita moça. Lembrou-se, quase que de imediato, de um vídeo que havia recebido, dias antes, no grupo de amigos.

Pegou o telefone e não conseguia acreditar no que via. O casal ao lado era o mesmo do vídeo que recebera. Dois minutos e vinte segundos que o fizeram ver o vídeo repetidas vezes. O casal do vídeo era o casal ao seu lado, não tinha dúvidas.

Como era possível? Preferia nem pensar, só tinha certeza que eram eles.
Não demorou para receber uma mensagem do amigo informando que não chegaria a tempo. Pediu mais um chopp e não conseguia tirar o olho do afortunado casal.

Imaginou se eles já sabiam da propagado vírus. Instantes depois, a moça ficou sozinha na mesa quando o companheiro foi ao banheiro. Olhou para ela e foi retribuído de imediato. Sorriu, ela sorriu. Piscou, ela piscou. Tudo aquilo estava acontecendo, de verdade.

Quando o rapaz voltou, não resistiu. Foi até a mesa deles e, com muito jeito, se apresentou e falou do vídeo. Perguntou se eles sabiam, foi informado que sim e ficou impressionado com a naturalidade do casal. Sentaram juntos, estavam namorando há apenas três meses.

 - Vocês não se incomodam?

 - Nem um pouco. Deixamos os outros pensarem o que quiserem. Meu celular foi roubado e o vídeo caiu na rede. Paciência... - respondeu a moça.

O que era para ser um happy hour virou uma noitada a três. O bar foi seguido de boate e ainda se beliscava quando entrou numa suíte com os dois. A noite foi daquelas e pouco era lembrado na manhã seguinte. Ressaca, boca seca, dor de cabeça e amnésia. Beber vodca dá nisso...

A presença no serviço pela manhã foi estranha, cheia de olhares. Era ele o mais novo membro de vídeos que se propagam na rede. Na atividade e passividade, ficou famoso de um jeito que não queria. Não conseguia ter a tranquilidade do casal em não se importar com tudo. Demorou para se dar conta de que fora vítima de um golpe sujo, praticado por salafrários sedentos por uma perdição que tão pouco seria esquecida.

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quarta-feira, 4 de março de 2015

Tapa de luvas

Tapa de luvas

O encontro já tinha mais de dez anos, mas vivia mal das pernas. Aquela 'pelada' semanal, que chegou a contar com três times e meio de fora, agora custava a ter dois times completos para o bate-bola.

Entradas e saídas foram constantes e quem ficava responsável pelas confirmações, ausências e substituições sofria a cada semana. Tinha que ligar do próprio telefone para achar alguém que cobrisse buraco, tirar um goleiro do gol e colocar na linha e por aí vai. Perdeu a conta de quantas semanas foram perdidas, aluguéis indo pro espaço.

Em um deles, um amigo de um amigo se prontificou e chegou pontualmente, quando todos já estavam prontos. Quando o viram, com seus 1,60m, se surpreenderam com o que foi dito.

- Jogo no gol.

- Como assim joga no gol? Vc não trouxe luva, meião, short de goleiro, camisa, nada. E sua altura também não ajuda...

- Só jogo no gol. E descalço.

- Oi?

- De que lado fico?

E, sem resposta, foi pra um dos times. Os risos de alguns antes da bola rolar foram engolidos a seco assim que chutes, cruzamentos e lances de perigo apareciam.

Com bom posicionamento e antecipação, ele fechou o gol, literalmente. Seu time venceu por 8 a 1, um gol contra foi marcado e nada além disso.

Na saída, quando calçava o chinelo, recebeu os cumprimentos de uns e o convite do organizador. Na semana seguinte, voltou e ganhou de presente uma luva de um dos novos colegas.

 - Não precisava, mas vou aceitar.

Muitos não percebiam, mas quando a bola estava distante, as unhas do pequeno goleiro sofriam. Pelo menos foi assim na sua estreia.

Com as luvas, os dedos foram preservados e foi somente por isso que o presente foi aceito. Nada de pimenta ou coisa parecida para evitar o péssimo hábito, que acontecia somente dentro de quadra, sabe-se lá o porquê.

A luva, agora, era parceira frequente e não foi mais abandonada. Descalço, com short sem proteção, mas de luva, ele continuou fechando tudo e fazendo questão de jogar sempre no time do responsável pelo presente.

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