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quarta-feira, 4 de junho de 2008

O risco por uma notícia

O fato envolvendo uma repórter, um fotógrafo e um motorista do Jornal "O Dia", do Rio de Janeiro assustou muita gente. Mas o acontecido chega a ser compreensível, se analisarmos pela visão de quem comanda a região "visitada".

Os três alugaram uma casa na favela de Batan, em Realengo, zona oeste do Rio. O interesse era investigar a participação de milícias no tráfico carioca. Esse grupo, geralmente formado por soldados, policiais ou bombeiros da ativa ou afastados, disputa o poder com traficantes de várias favelas do Rio de Janeiro. Estima-se que cerca de cem favelas do antigo Estado da Guanabara são dominadas por milícias.

Após descobertos, os jornalistas foram espancados e submetidos à sessões de choques elétricos e sufocamento com saco plástico durante sete horas e meia. Estilo Tropa de Elite. Pro quadro ficar completo, faltou a vassoura. Até a famosa roleta russa aconteceu. Algumas informações dão conta de que um morador da comunidade estava com os jornalistas.

Ontem assisti parte do programa "Observatório da Imprensa", que discutia exatamente esse assunto. Coincidência ou não, o fato aconteceu no aniversário de morte do jornalista Tim Lopes, da Rede Globo, que foi assassinado brutalmente por traficantes cariocas, após ser descoberto realizando reportagens investigativas sobre o tráfico nos morros fluminenses.

Me pergunto até que ponto vale a pena cobrir uma reportagem dessas. Claro que todo jornalista deve obter o maior número de informações possíveis, ainda mais se tratando de um assunto que envolve e desperta o interesse de toda a sociedade. Morando ali por uns dias ficaria muito mais fácil compreender a realidade do local.

Eu, particularmente, teria um grande prazer em fazer qualquer tipo de reportagem investigativa. Um dia eu ainda chego lá.

Mas todos sabemos como é o esquema em favelas. Ninguém ousa comentar sobre nada, desde tiroteios a roubos e execuções. Os traficantes comandam tudo, inclusive horários de abertura e fechamento de comério. E ai de quem ousar desrespeitar a "lei do cão".

A situação é ainda mais crítica para estranhos, que estão ali com o intuito de divulgar à sociedade sobre o caos diário que os moradores são obrigados a enfrentar todo santo dia.

Qualquer um que esteja lá para tentar atrapalhar o esquema que existe é uma ameaça, e certamente será observado com mais atenção e provavelmente, perseguido e ameaçado. No mínimo.

Todos, dentro de uma favela, se conhecem e caras novas, são facilmente percebidas. Ainda mais durante duas semanas. Na minha opinião, tempo demais para uma incursão de risco como essa.

Um dos diretores do jornal "O Dia", que estava presente no programa citado anteriormente , informou que houve um pré-conhecimento da área antes de deslocarem a equipe para o local.

Uma outra entrevistada, representante de um sindicato de jornalistas que realizam reportagens investigativas, informou que alguns cuidados são necessários em casos como esses. Normalmente, eles tiram um ou dois moradores da área e levam para um outro local, para aí sim, obterem as informações desejadas. Essa segunda solução me parece mais prudente.

Os jornalistas torturados já estão bem, em local seguro, recebendo o devido apoio, inclusive psicológico. Mas com certeza traumas permanecerão para o resto da vida de cada um deles.

Ainda no mesmo programa foi citada uma frase de Assis Chateaubriand, dita a um repórter que estava indo cobrir uma guerra ou evento de perigo: "Você está proibido de morrer!"

Mais importante do que qualquer notícia, é a vida.

3 comentários:

Anônimo disse...

Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.

Leia

http://velhoesquemanovo.blogspot.com/

Paula Carolina disse...

Nem tudo!

Daniel Ottoni disse...

é....nem tudo !