Em dia de jogo da sua equipe, ficava tão nervoso quanto no momento de uma reunião importante. Principalmente, agora, em que seu time estava em um momento crucial do campeonato, disputando a liderança ponto a ponto com outro time de grande tradição no futebol.
Os últimos jogos não haviam sido bons. Empates, gols sofridos no final, expulsões e os jogadores mais promissores não colaborando.
Mas a chegada de um novo jogo dava ânimo e esperanças de mudanças. Antes do juiz dar o apito inicial, fez seu conhecido ritual. Deixou a televisão no mudo enquanto rezava. Acendeu duas velas, uma para São Jorge e outra para Nossa Senhora Aparecida, seus santos mais devotos. Acendeu também um incenso, para purificar o ambiente.
A cerveja já estava gelada. Tudo pronto.
Como sempre, via o jogo sozinho, sem ninguém por perto para 'cornetar', criticar ou conversar. Às vezes, sentia a falta de alguém para comentar algum lance, mas de uma forma geral era bem melhor ver os jogos sozinho, sem ninguém por perto para incomodar. Ali, era só ele e sua torcida.
Que tudo dê certo.
É dado o apito inicial e o primeiro tempo foi horroroso. Gol sofrido ainda no começo da partida e uma atuação pífia, do goleiro ao ponta-esquerda.
Sua gritaria não resolveu de nada. Muitos menos, seus xingamentos e lamentações.
A substituição no intervalo pouco mudou. No segundo tempo, uma leve melhora acompanhada de perto pela queda de rendimento do adversário. O gol de empate nos minutos finais fez a situação ficar 'menos pior'. Poderia ter sido de mais. Um empate até foi válido, diante das circunstâncias.
O time continuaria brigando pela ponta da tabela e o retorno de algumas peças importantes na próxima partida, dentro de casa, era uma esperança a mais. Sabia que, mais uma vez, não poderia estar presente. Raramente comparecia às partidas. Não era assim quando era criança.
Frustrado, colocou sua roupa e se arrumou. Desceu as escadas e antes de chegar próximo à porta, ela se abriu. Desceu poucos lances de escada antes de ter a porta do carro aberta pelo seu funcionário.
- Boa tarde, governardor. Sinto pelo empate.
O motorista já sabia bem que a cabeça do seu patrão não estaria boa. Tentou amenizar a situação, foi correspondido com um leve movimento com a cabeça.
Entre as reuniões e palestras do dia, o governador não tiraria aquele resultado da sua cabeça tão cedo. Fanático como ele existiam poucos.
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quinta-feira, 23 de setembro de 2010
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