Torcedor fanático desde criança, percebeu na pré-adolescência que seria feliz fazendo o que gostava. Qualquer coisa no meio do futebol já seria válida. Pensou em Educação Física, Direito, Nutrição. Quando lembrou de Jornalismo e da facilidade que tinha para escrever e se comunicar, tomou a decisão que parecia mais acertada.
Na faculdade, teve dificuldade para conseguir um estágio. Ser colaborar de blogs esportivos foi o máximo que conseguiu. Continuava, fervorosamente, acompanhando o time do coração. Parava tudo que fazia para estar na frente da TV, vendo os jogos, discutindo escalação, esquema tático e contratações com os eternos companheiros de torcida.
Aos poucos, percebeu que mesmo nos seus comentários bloguísticos, não poderia externar toda a ‘doença’ que sentia. Seria demais e aquilo não cairia bem para quem queria ser visto como profissional. Conseguiu amenizar a paixão nos comentários e críticas, mas não suportava ver derrota atrás de derrota, sem se deixar abater.
Nos textos, emitia opiniões resumidas, sucintas, fazendo colocações pontuais e precisas. Mas no sentimento, o que acontecia era diferente. A má fase do time, que persistia em continuar há quase 11 meses, não passava e aquilo influenciava diretamente no seu dia-a-dia. O sono não era o mesmo, o humor também era afetado. Muitas vezes tinha que ser convencido por amigos, namorada e familiares que todo aquele desgosto não valia a pena.
Jogadores que ganhavam milhões não produziam o mínimo para o salário que ganhavam, bem distante do seu desempenho. Sabia muito bem de tudo isso, mas a paixão era demais. Não conseguia entender como muito pouco era mostrado por cada um daqueles contratados. Muitos ali haviam sido selecionados a dedo pelo presidente no momento da contratação. Disputas ferrenhas com outros clubes aconteceram para que aquelas peças estivessem à disposição do treinador com maior número de títulos no país.
Mas nada daquilo adiantava. Um CT de dar inveja a muitos clubes, um treinador de ponta, investimentos altos, jogadores renomados. As vitórias não apareciam. E insistiriam a não aparecer enquanto alguma providência drástica não fosse tomada.
Nesse meio tempo, conseguiu um bom emprego. Uma emissora de TV precisava de alguém apaixonado e envolvido com o futebol. A função era de produtor assistente: conseguir matérias, entrevistas, imagens e tudo que ia para o ar. Um emprego desejado por muitos, principalmente por ele, desde que tomou a decisão de trabalhar no meio do jornalismo esportivo.
Mas o time mantinha o mau desempenho. O emprego seria uma ótima oportunidade para deixar o baixo astral de lado. Focar no trabalho e esquecer a vergonhosa campanha era o conselho de todos que percebia, facilmente, que ele ainda não estava bem. Mas o time agora estava presente no seu cotidiano profissional. O que era pra ser uma válvula de escape, aflorou ainda mais o sentimento de revolta.
De nada adiantavam as longas conversas com a companheira de sete anos e os bate-papos com os amigos. Muitos destes já haviam se desapegado do time. Faziam questão de ver os jogos juntos, mais pela oportunidade de estar entre amigos do que pelo time, que não merecia nada, nem um ingresso na parte mais barata do estádio.
Afetado pela eterna má fase, manteve o emprego enquanto pôde. Chegou em uma situação de não cumprir mais os prazos estipulados e ver seu rendimento cair drasticamente. O chefe suportou enquanto pôde. A demissão foi questão de tempo.
Desempregado e cada vez mais sem esperança, conseguiu se desapegar de tudo quando uma nova oportunidade surgiu nas férias na Bahia: trabalhar em uma pousada no litoral. O dinheiro era bom e o lugar paradisíaco. Mas ali, não havia internet, time de futebol ou cidade grande. Era tudo muito simples e prático. Levou a namorada para lá, o salário daria muito bem para os dois.
Desapegou de tudo e pôde, finalmente, ser feliz. Pelo menos aparentemente. Conseguia estar tranquilo e fazer bem o seu trabalho. Mas os pensamentos no time sempre apareciam, queria saber como andava tudo por lá, se a má fase fora embora. Mas não chegava a comentar esta vontade.
O ambiente diferente era tudo que precisava para desapegar, pelo menos em parte, do time que foi tão importante na infância. Lá no fundo, o time nunca havia sido esquecido. Paixão de torcedor não passa assim.
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quarta-feira, 17 de agosto de 2011
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