Fazia terapia há exatos 11 anos. Medos de infância, receios, vontades, pensamentos, tudo o que passava pela cabeça, ele falava, como o próprio profissional orientara.
Todas as sessões haviam ajudado muito, superou várias barreiras que nem imaginou que existia e outras que pareciam intransponíveis.
Mas chegou uma hora em que achava que não dava mais. Não adiantava. Foi bom enquanto durou, mas já tinha dado.
Achou a pessoa certa depois de várias tentativas. Terapeuta não é coisa fácil de se achar. A pessoa deve entender, respeitar, consentir, discordar e orientar, tudo isso de um jeito que não agrida o paciente, que o deixe à vontade, mesmo no meio de tantas informações e sensações.
O doutor já o ajudara além da conta, fora um excelente ouvinte, um conselheiro melhor ainda. Parecia que ele colocava uma boa dose de luz no caminho, deixando tudo mais claro e fácil de ser percorrido. Fora o único entre tantas tentativas. E olha que ele quase virou mais um número. Uma insistência de três meses acabou fazendo a diferença e alertando-o sobre a escolha, que quase lhe escapou por entre os dedos.
Parecia que o terapeuta sabia que aqueles três meses eram decisivos. Fez tudo de um jeito muito diferente a partir dali. Talvez os assuntos abordados desde então o motivaram a isso, vai saber...
Mas não dava mais. Apesar da boa relação, não criou coragem de ir e dar o recado pessoalmente. Mais um medo não superado.
Qual o problema de ir lá e encarar a situação? Não dava, preferiu ligar. Ligou, ninguém atendeu. Caixa postal.
Início do recado: "Doutor, sou eu. Vou ser breve. Não dá mais para mim. Não quero mais me consultar com o senhor. Me desculpe. Acho que foi bom, mas não quero mais. O senhor é um ótimo profissional, tenho certeza que faz milagre com muita gente maluca por aí, bem diferente de mim. Eu não sou maluco. Te procurei porque me sentia mal e muita coisa começou a aparecer. Mas doido eu não sou..."
Continou falando por mais 34 minutos. Uma das melhores consultas que tivera. Falando, falando, falando, sem ninguém o interromper, mas também sem ninguém pra olhar lá no fundo do olho.
Falou de tudo, da vida, da morte, do sexo, dele, da famíia, ex-esposa e filha. Do time do coração, da feijoada, do rock e do pub. Da avó, da madrasta e do tio.
Aquela ligação era a última consulta. Fora um desabafo final de tudo e o fizera, sem saber, esquecer o motivo da ligação.
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segunda-feira, 17 de outubro de 2011
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