O encontro já tinha mais de dez anos, mas vivia mal das pernas. Aquela 'pelada' semanal, que chegou a contar com três times e meio de fora, agora custava a ter dois times completos para o bate-bola.
Entradas e saídas foram constantes e quem ficava responsável pelas confirmações, ausências e substituições sofria a cada semana. Tinha que ligar do próprio telefone para achar alguém que cobrisse buraco, tirar um goleiro do gol e colocar na linha e por aí vai. Perdeu a conta de quantas semanas foram perdidas, aluguéis indo pro espaço.
Em um deles, um amigo de um amigo se prontificou e chegou pontualmente, quando todos já estavam prontos. Quando o viram, com seus 1,60m, se surpreenderam com o que foi dito.
- Jogo no gol.
- Como assim joga no gol? Vc não trouxe luva, meião, short de goleiro, camisa, nada. E sua altura também não ajuda...
- Só jogo no gol. E descalço.
- Oi?
- De que lado fico?
E, sem resposta, foi pra um dos times. Os risos de alguns antes da bola rolar foram engolidos a seco assim que chutes, cruzamentos e lances de perigo apareciam.
Com bom posicionamento e antecipação, ele fechou o gol, literalmente. Seu time venceu por 8 a 1, um gol contra foi marcado e nada além disso.
Na saída, quando calçava o chinelo, recebeu os cumprimentos de uns e o convite do organizador. Na semana seguinte, voltou e ganhou de presente uma luva de um dos novos colegas.
- Não precisava, mas vou aceitar.
Muitos não percebiam, mas quando a bola estava distante, as unhas do pequeno goleiro sofriam. Pelo menos foi assim na sua estreia.
Com as luvas, os dedos foram preservados e foi somente por isso que o presente foi aceito. Nada de pimenta ou coisa parecida para evitar o péssimo hábito, que acontecia somente dentro de quadra, sabe-se lá o porquê.
A luva, agora, era parceira frequente e não foi mais abandonada. Descalço, com short sem proteção, mas de luva, ele continuou fechando tudo e fazendo questão de jogar sempre no time do responsável pelo presente.
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