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sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Julgamento

Estávamos indo em direção ao carro. Jorge abre o carro, Vinícius entra. O próximo seria eu. Quando vou entrar, aparecem dois caras, mais ou menos 30 anos. Saem de trás de um dos carros próximos, do nada. Chegam falando que estavam tomando conta do carro, pedindo trocado. Os caras não tinham a menor pinta de "flanelinhas". Pra mim, situação ideal para um assalto ou quem sabe, um seqüestro-relâmpago. Isso já aconteceu com pessoas próximas a mim e poderia e pode muito bem acontecer com qualquer um de nós, a qualquer momento.

Quando vi um deles colocando a mão por dentro da blusa, pensei: "É agora!"

Mas não foi. Quando eles estavam ali falando aquele tanto de baboseira, Igor e Carol, malandro que são, começaram a rir, meio que brincando com os caras...era mesmo uma brincadeira, mas muito sem graça.

Jurei que Igor e Carol conheciam os caras, mas aquela era a primeira vez que qualquer um de nós os via.

Entramos no carro e eu ainda estava gelado. A situação era totalmente propícia para um assalto e ainda acho que os caras tiveram dó ou sei la oquê para não ter feito algo conosco. Às vezes pode ter sido a reação do casal, que meio que deu uma de joão-sem-braço. Vai saber...

Quando entramos no carro, falei o que pensava. Dois caras aparecem do nada, vêm pra cima da gente com um papo totalmente torto, falando que queriam trocado, um deles enfia a mão na blusa e eu tinha que ficar tranqüilo? O cacete !

Independente de quem fossem os caras, o susto seria praticamente o mesmo.

Os caras não eram nenhum alemães ou belgas, e acredito que isso ajudou no impacto.

Quando falei isso com o pessoal, acabei sendo julgado...

Não sou racista nem tenho nada contra pessoas de cor, qualquer que seja. Mas admito que rolou um preconceito, fruto da sociedade em que vivemos e da realidade que somos obrigados a conviver todos os dias.

Se eu morasse no Canadá, por exemplo, é bem provável que eu não levaria o menor susto, sendo os caras verdes ou vermelhos.

Mas estamos no Brasil. E querendo ou não isso rola por aqui. Fui muito sincero ao falar que a forma como os caras chegaram e a cor deles causaram um maior impacto em mim. Eu tomaria o um baita susto se os dois fossem loiros, mas...o impacto realmente foi maior, diferente...

Após julgado, dei uma surtada no carro. Fiquei p da vida, como se estivesse cometendo um baita crime. Rolou um pré-conceito sim. E com quem julgou, não rolaria? Nunca rolou? Seja sincero também, da mesma forma que fui.

A situação era bastante propícia para um ato criminoso qualquer, bastava os caras quererem. Pra mim, demos sorte.

Só não gostei de ser julgado, como se a galera fosse super santa, politicamente correta, sem nenhum preconceito presente (mesmo sem querer ter). Fala sério...

Valeu pelo aprendizado. Vivendo e aprendendo... ...read more ⇒
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sexta-feira, 5 de setembro de 2008

BIG BH


créditos: Carlos Hauck

Muita gente considera o grafite uma arte marginalizada.

Uma coisa é de onde veio e outra, no que se transformou e para onde vai.

Tudo tem sua origem, mas também seu destino, seu curso.

Com o grafite não foi diferente: saiu das áreas de risco de grandes cidades e conquistou o mundo.

Hoje, é considerado arte. O grafite chegou onde chegou por merecimento. Nasceu, cresceu, se desenvolve e a tendência é um maior reconhecimento a cada dia.

Muitos misturam grafite com pichação. Apesar de serem diferentes, o berço é praticamente o mesmo, além do fato de serem duas intervenções inteiramente urbanas e relacionadas ao movimento street, hip hop e tudo que envolve esse universo.

As primeiras manifestações de grafite aconteceram em Paris, durante a revolução contracultural em maio de 1968. Os muros da cidade-luz se tornaram no alvo de manifestações poético-políticas. Outro bom exemplo foi o Muro de Berlim, pouco antes de sua queda.

Mas a coisa virou realmente arte, e não somente uma manifestação presente em alguma parede inutilizada e prestes a ser demolida.

Quem não conhece os irmãos gêmeos paulistanos Otávio e Gustavo Pandolfo devia conhecer. Apesar de não terem o devido reconhecimento por aqui, os caras são bastante requisitados no exterior, onde já pintaram, por exemplo, um castelo na Escócia que tinha suas paredes bastante degradadas devido à ação do tempo. Outro local que serviu de palco para a obra dos gêmeos foi o Tate Modern, em Londres, onde mandaram seu trabalho em um painel de 20 metros de altura.

Mas no Brasil, a história é diferente. Os gêmeos paulistanos tiveram, recentemente, uma de suas obras apagadas, sem querer, por uma empresa contratada da prefeitura de São Paulo. A intenção era apagar as pichações em um muro da capital paulista, mas vários grafites presentes em um muro enorme também foram “levados” pela bela tinta cinza cor de poluição.

Mas um dia chegamos lá; evolução sempre!

Será que somente as obras presentes dentro de um museu devem ser valorizadas?

Apesar de ainda ser visto com muita desconfiança, o grafite vem crescendo e conquistando novos espaços a cada dia. A 1ª Bienal do Grafite de Belo Horizonte é um marco histórico na cidade. A presença de grafiteiros de países como Espanha, Japão, Holanda, Porto Rico e Alemanha mostra o envolvimento e o interesse da organização em fazer um evento de qualidade, que realmente chame a atenção. E não há como isso não acontecer.

A qualidade das obras é de impressionar. Quem for à Bienal do Grafite, na Serraria Souza Pinto, em Belo Horizonte, vai ter acesso aos trabalhos de verdadeiros artistas de arte urbana contemporânea. São painéis que parecem ter vida, e quanto mais próximos chegamos deles, mais queremos ficar por ali, observando cada detalhe das obras.

Artistas brasileiros de grande potencial também deixam sua marca por lá. São jovens de muito potencial de estados como Pernambuco, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo e Rio Grande do Sul. Não é porque falta apoio que a galera vai deixar de fazer o que mais gosta. Ainda mais no meio do grafite, onde a busca pelo reconhecimento e a luta pela sobrevivência estão presentes desde sempre.

Um dos destaques da Bienal é Binho Ribeiro, grafiteiro de grande reconhecimento dentro e fora do Brasil: “A partir de agora, a bandeira do grafite está, definitivamente, cravada em Belo Horizonte. A BIG é um marco histórico”.

Segundo Rui Santanna, curador da Bienal, todas as obras foram pintadas em apenas três dias, em um trabalho frenético. Além da qualidade dos trabalhos, outro fator que chama muito a atenção é a ética presente na maioria das obras, onde valores importantes da sociedade são transmitidos através da arte, do desenho, da irreverência. E muita gente ainda acha que o grafite é coisa de marginal, sem educação e valores morais.

O BIG é uma ótima vitrine para divulgar essa manifestação da cultura urbana contemporânea, totalmente oportuna e bem-vinda. É de abrir e encher os olhos.

A entrada é gratuita e o evento vai até o dia 7 de setembro.

Para informações, acesse o site www.bigbh.com.br

Quem viver, verá !!!

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