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terça-feira, 23 de abril de 2013

Ajoelhou, nada de rezar...


Baseado em fatos reais...

4h11 da manhã, toca o telefone. Demorou para atender. Imaginou que seria trote ou notícia ruim. Acertou em cheio, mas o que chegou era inimaginável.

- Alô?

- Boa noite. Senhor João?

- Sim...

- Desculpe incomodá-lo a esta hora, mas o assunto é urgente. Meu nome é Marina, sou coordenadora do hospital municipal do Rio de Janeiro. Sua filha deu entrada há pouco, após sofrer um acidente de moto. Infelizmente, ela não resistiu.

Segundos de silêncio..

- Senhor?

- Sim, eu escutei. Vou tentar ir para aí o quanto antes.

- Ok, senhor, obrigada.

Levantou e mal conseguiu raciocinar. Ele, viúvo e a filha única, morta. Cansou de dizer a ela para não comprar moto, que era perigoso. Seu maior receio se confirmara.

Com a roupa do corpo e uma pequena mala, partiu para a rua com os R$ 17 que tinha no bolso. Foi até a rodoviária. A passagem custava R$ 67.

Não teve outra opção, a não ser contar com ajuda dos transeuntes. Em cada rosto, uma esperança de ajuda. Por ali, pouco conseguiu.

Resolveu entrar no metrô, ali o fluxo de pessoas era maior.

Na primeira viagem que fez, entrou no vagão e sem pensar, ajoelhou-se.

- Desculpe incomodá-los, senhores. Minha filha acaba de morrer em um acidente de moto, preciso ir ao RJ e não tenho dinheiro. Será que vocês podem ajudar um pobre viúvo, que acaba de perder a filha única?

Poucos olharam para ele, alguns ignoraram, outros começaram a mexer nos bolsos. Moedas, notas, tudo era bem-vindo. Não tinha familiares na cidade, as opções eram escassas. Senão, não estaria ali, de joelhos, pedindo esmola para desconhecidos, contando com bom coração de qualquer um.

Demorou quatro horas para conseguir os R$ 50. A ida estava garantida, a volta se arranjava por lá.

Chegando ao Rio, teve que pedir mais esmola para conseguir o dinheiro da passagem até o hospital. Chegando lá, confirmou a informação, ainda tinha esperanças de ter havido algum erro. Nada disso. Poderia começar a pensar na sua vida mais do que solitária, a partir de agora.

A 'tática' da esmola seria uma constante. A filha, que o ajudava constantemente, se fora, deixando pouco ou quase nada.

Ficar de joelhos dentro de vagões seria um trabalho diário a partir de então, que traria poucos resultados. Nada de agradecer, muito por lamentar.





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