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quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Adeus, Sorín

Esperava os dois filhos pequenos irem na frente para depois aparecer. A 'tática' costumava dar certo, mesmo que alguns fregueses dos bares da região logo percebessem sua presença, minutos depois.

Deixava os pequenos ganharem distância para tentarem vender as rosas, colhidas em um jardim próximo de casa. Depois que eles já estavam circulando em meio às dezenas de mesas, era tiro e queda. Olhar para o lado e lá estava a mãe, de longe, observando as crias, como quem protege os filhotes. Contava as moedas e mostrava a cara de desgosto.

O mais velho já estava até bem grandinho. Não conseguia mais, com tanta eficiência, sensibilizar os clientes. A ideia era usar o tamanho e a pouca idade para que as vendas fossem boas. Poucos eram o dias proveitosos. Quando ele voltava com quase nada, era xingado e tinha que escutar como se não tivesse cumprido sua obrigação.

Via-o oferecendo as flores para os casais e até para mesas só de homens, não custava tentar. Sentia, de longe, a preguiça nele. Eram mais de 10 anos naquela luta diária.

A falta de atenção que ele recebia a fez tomar a decisão que vinha sendo alimentada. Ter um novo filho. Precisava de alguém com mais eficiência nas vendas, era esse o objetivo.

Pouco pensava nas condições do barraco de um cômodo, onde todos dormiam amontoados. O marido ajudava pouco e tinha mais utilidade na procriação.

Com um filho mais novo, em três ou quatro anos, conseguiria colocar o novo membro nas ruas e ensiná-lo a melhor abordagem. O mais velho, que ainda servia para as vendas, seria 'aposentado' e teria que se virar sozinho.

Não dava mais. O apelido de 'Sorin', pelos cabelos compridos, era sua marca registrada. Já o irmão chamava atenção pela cicatriz no rosto e voz fina. Vendia fácil e despertava mais a atenção dos frequentadores de botecos e bares.

Pensou no que faria com o filho 'aposentado', que pouco sabia da vida e mal havia frequentado a escola. Olhou o bolso vazio e lembrou que estava em um dia fértil, ideal para que a data não fosse perdida. Logo tratou de assobiar.

Os dois logo apareceram e foram embora. Os dias seguintes podiam render novidades, boas para ela e não tão interessantes para o pequeno sósia argentino, que teria que se virar por conta própria.

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