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sábado, 25 de outubro de 2008

Papelão

Até hoje o caso Eloá perdura. Agora, o foco é saber se o namorado deu ou não um tiro antes da polícia entrar. Realmente é de se parar o país.

Quantos casos como este acontecem todos os dias no Brasil? Uns doze, no mínimo. Mas o caso de Santo André foi o escolhido pela imprensa.

E vamos continuar ouvindo deste assunto por mais algum tempo, podem ter certeza.

Não suporto a forma como a mídia trata o assunto. A repercussão é maior do que Copa do Mundo e outros assuntos de muito mais importância.

Claro que não há como fugir de um fato deste, ainda mais pela forma como se deu. Mais de 100 horas de seqüestro, polícia invadindo, tiro na boca, óbito e tudo mais. Uma beleza para os meios de comunicação em busca (parece que somente) de audiência e lucro. Sempre ele.

Claro que um fato como este deve ser noticiado. Mas não tanto. Tem tanta coisa que acontece de interessante, boa ou não, que pode ser divulgada e que ocupa menos (ou nenhum) espaço para se saber cada detalhe de "extrema relevância" de um fato como o da menina.

Pode-se falar de tantas outras coisas. Assuntos mais construtivos e educativos, coisas de real valor. Mas não. O que vale é pegar o depoimento do periquito recém-nascido que estava no andar de baixo do prédio ao lado. Isso sim é importante.

Tenho certeza que muito valor será dado para a emissora (aberta) que não cobrir um fato como este com tanto intensidade e começar a dar espaço para assuntos que sejam de interesse da população.

Mas o povo também tem culpa. Muita gente gosta de ver o circo pegar fogo, acompanhar cada lance, ficar naquela espectativa toda, como se estivesse vendo um filme ou capítulo final de novela das nove. É reflexo de um país onde Latino, MC´s e mulher-fruta-podre fazem o maior sucesso. Reflexo de um lugar onde as coisas mais absurdas são colocadas lá em cima e as coisas mais magníficas que existem de verdade são pouco valorizadas e muitas vezes esquecidas. Haja paciência.

A preocupação da mídia com a família dos envolvidos também é de chamar a atenção. Até o dia em que algo parecido acontecer com eles. Aí sim, vão sentir na pele como é transformar um fato como este em ficção.

Mas ainda há tempo para mudanças. Mas deve-se abrir a cabeça de uma forma muito contestadora, ir para um outro caminho. Como um jornalista, por mais "macho" que seja, pode bater de frente com a chefia de uma emissora e tentar mudar a idéia de dar uma cobertura maior para um outro assunto? Como chegar e falar que é melhor fazer um documentário ou uma reportagem especial, por mais bacana que seja, e deixar de lucrar não sei quanto devido a audiência que estará ali colada?

Seria o ideal que isso acontecesse, mas o lucro prevalece.

Quem sabe um dia isso muda.

Até lá, vamos nos segurando. E podem acreditar que o próximo "caso de sucesso" será do camarada que deu um tiro na boca do irmão ou do pai que estuprou e matou a enteada a pauladas. Isso sim é bonito.

Vocês se lembram do nome da garota que foi jogada pela janela pelos pais? E do menino que foi arrastado por tantos quarteirões no Rio de Janeiro? E da garotinha que foi estuprada por um maníaco? E do padre pedófilo que comeu não sei quantas criancinhas? Se lembram?

Difícil né. Pra você ver como o caso é valorizado e assim que o próximo acontece, é esquecido e tudo se volta para o mais recente acontecido. Cospem, literalmente, o que comem.

Que imprensa a nossa. Valorizando coisas tão belas e reveladoras.

A única coisa que salva é a campanha fora-dunga.

3 comentários:

Igor Moreira disse...

Revoltado!

Gabi disse...

Falou e disse! Pior foi aquela Sônia Abrão fazer entrevista AO VIVO com o sequestrador! Aquilo ali foi de lascar! O cara já é perturbado, tudo q ele queria era exatamente o q fizeram: jogaram os holofotes em cima dele e a louca da "jornalista" ainda consegue (sabe-se lá como...) o celular do cara e conversa com ele ao vivo num programa de fofocas! esse país é mesmo uma piada...

Igor Moreira disse...

Leia: www.velhoesquemanovo.blogspot.com.br

"Conta um pouquinho pra gente"

Hasta