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domingo, 17 de janeiro de 2016

Chave no vidro

A pressa fez com que, antes mesmo de sair de casa, logo cedo, garrafas já estivessem rolando pelo chão da cozinha. A vizinhança devia estar adorando. Achava um absurdo aquele tanto de vidros em lixeiras comuns e fazia questão de colocar todas no local correto, da coleta seletiva, perto de casa.
A reunião na noite anterior foi boa e fez com que ele tivesse que recolher tudo o que fora consumido poucas horas antes. O sono fora longe de ser profundo. Cerveja, vinho e até o resto do velho Jack, que finalmente se fora. O compromisso pela manhã o colocava justamente no caminho do local onde sempre deixava os vidros. Apesar da pressa, tudo em ordem, tirando a bateção de vidro no porta mala. Mas o pior estava por vir.
Naquela correria, abriu o porta mala e deixou a chave na mão, ao invés de colocar no bolso, como sempre fizera. Resultado: os vidros todos foram parar no gigante recipiente junto com a chave. Percebeu quando foi abrir o carro. Que sorte!
Não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Não sabia se ligava para o chaveiro, se tentava arrombar a lixeira de vidro ou se sentava no meio-fio e chorava. Colocou-se na ponta do pé para tentar ver onde estava a chave, como se fosse adiantar. Dois chutes na caçamba e um grito solitário ecoaram pela rua vazia. A chave reserva já tinha ido para o espaço há meses. Pensou em ligar pra mãe e desabafar. O resultado seria nulo.
O tempo passava e decidiu ir caminhando, até encontrar um táxi. Na volta, veria o que fazer. Somente quando chegou em casa, lembrou do incidente da manhã.
"Pua que pariu!", foi a única coisa que conseguiu pensar. Foi até o local e, para sua surpresa, a caçamba estava vazia. Não sabia se era bom ou ruim. Só quando já virava as costas para mais momentos de desespero é que percebeu, debaixo de uma pedra, encostada em uma das várias caixas de papelão, um pequeno metal reluzente. Ao lado, um papel. "Mais cuidado da próxima vez" e a chave logo ali, com alguns resquícios de vidro. O cheiro de cerveja escura no chaveiro do time do coração que ficaria para sempre como um lembrete do preço que se passa por desnecessários desesperos.

1 comentários:

Vinícius F. Magalhães disse...

isso ae Daniel!!! Tem que vivenciar para opinar e saber. O do Barro Preto é fino!