| |

domingo, 29 de junho de 2008

Salve Jorge

Batia palmas fervorosamente e de pé. Aquele fora com certeza um dos melhores shows que havia visto na vida. Mal podia acreditar que aplaudia o mesmo negro que viu, dez anos antes, numa praça no centro de Roma. Ele dedilhava alguns acordes em um violão já velho e balbuciava algumas palavras em um língua diferente. Ao lado, um chapéu com algumas moedas e poucas notas. O som convidava quem passava para uma pequena parada, talvez uma ajuda. Quando se aproximou, algumas pessoas já estavam ali, ouvindo aquele som improvisado. Algumas palmas, um sorriso de um, outro de outro, o negro parecia feliz. Mesmo com o pouco que (visivelmente) tinha, ele parecia feliz. Feliz pela presença daqueles que interrompiam seu caminho para lhe ver e ouvir.

Percebeu quando o homem alto, com estilo de mafioso, chegou por trás de todos para ver o que se passava e lançou um olhar de preconceito, já chegando e saindo. Para este, pouco importava. Para o negro também, feliz da vida.

Aos poucos, dissiparam-se e rumaram aos seus destinos. O negro pegou seu casaco e chapéu e desceu os degraus da escadaria. De longe, viu o mal humorado senhor entrar em um táxi.

Aquele dia fora proveitoso para o imigrante, que teria o que comer na fria noite que se aproximava. Só faltava achar onde dormir.

A platéia delirava; minutos de plamas. Todos em pé e o negro mais uma vez esboçava o mesmo sorriso sem graça e se mostrava feliz da vida. Feliz pela presença de quem pagou ingresso para vê-lo, mais ainda pelo reconhecimento.

O negro mostrava a mesma humildade e simpatia em situações bastante distintas. O velho Luca se mostrava surpreso com a situação. Imaginou como mudou a vida do latino, das ruas de Roma para o mundo. Um dia, um mendigo e um bancário. No outro, dez anos depois, uma estrela e um bancário. O jeito era colocar o rabo entre as pernas e perceber como o mundo dá voltas.

O preconceito de antes se transformou, de alguma forma, em aprendizado e amadurecimento. A hipocrisia se rendeu ao talento.

Salve Seu Jorge.

1 comentários:

Gabi disse...

excelente! escrita leve, gostosa de ler. e a história é sensacional! não sabia q Seu Jorge já tocou nas ruas de Roma...

bjs