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terça-feira, 24 de maio de 2011

Não era pra ser

Se ele mesmo se achava tão esquisito, imagine os outros. Em sua lista de paranoias estavam não pisar em linhas na calçada, apagar 'bitucas' de cigarro acesas no chão, tentar ajudar alguém que parece perdido, mesmo podendo receber um resposta cretina e andar sempre do lado mais próximo da rua, quando estivesse acompanhado.

Não tinha a menor noção do que havia causado tantas manias, mas não conseguia controlá-las. Bastava andar na rua ao lado de alguém, que já ia pro lado mais perto da rua. Se visse 'bituca' no meio da rua, saía do passeio só para apagar, como se dali fosse nascer um belo incêndio urbano.

Um dia, seu pé foi pisado logo quando ia apagar a quinta 'bituca' do dia, um novo recorde. O grito foi silenciado ainda quando olhava para baixo e viu uma sandália linda mostrando dedos ainda mais atraentes. Os olhos verdes deixaram qualquer indício de raiva de lado. Ela também vinha apagando 'bitucas' há mais de 10 anos, desde que o pai morreu devido a um câncer.

Descobriram afinidades ainda enquanto um pedia desculpa ao outro. "Que isso imagina, deixa pra lá, também odeio Marlboro, fede demais" e por aí vai...

Mas ela não entendia quando ele insistia em trocar de lado quando andavam na rua. E também saía pisando em todas as linhas do passeio. Um absurdo!

Em poucos segundos, o que era um amor platônico se transformou em uma completa desilusão. Não era pra ser.

1 comentários:

Paula Meireles disse...

Mal sabia ele que as diferenças são importantes e fazem parte!! ;)
Gostei!!!